quarta-feira, 8 de julho de 2009

INTRODUÇÃO

Grande parte das atividades desenvolvidas pelos seres humanos é realizada em grupos. Assim sendo, estudar os grupos é de importância incontestável. A enfermagem, dentro deste contexto e, pela própria natureza da constituição da equipe de enfermagem, vê-se também diante do desafio de potencializar as relações interpessoais como forma de melhorar a qualidade da assistência.


Na proposta desta reflexão temos como objetivo esclarecer o papel do enfermeiro em grupos de apoio caracterizando os aspectos estruturais de funcionamento dos grupos.


A utilização desse conhecimento na Enfermagem vem sendo um importante recurso na assistência, pesquisa e gestão de pessoas. Finalmente, ressaltamos que a falta desse conhecimento para o enfermeiro pode levar à banalização da utilização das atividades grupais, quando este propõe um trabalho com grupos apenas pelo uso de técnicas e jogos, sem contextualizá-las e sem embasamento teórico que dê sustentação ao processo do grupo como um todo. Muitas vezes, elas não são adequadas, nem necessárias ao momento do grupo e podem não ter finalidade alguma.


A metodologia utilizada neste trabalho baseia-se em uma revisão de literatura constituída de artigos e livros posteriores a 2002.

DESENVOLVIMENTO

No Brasil a partir da década de 60 as técnicas grupais foram sendo incorporadas no trabalho da Enfermagem, e na década de 80 é que surgem as primeiras pesquisas acerca deste tema, onde o enfermeiro utiliza o grupo para várias finalidades sem, no entanto, haver uma preocupação com a formação específica deste profissional para exercer o papel de coordenador de grupo.


A dimensão coletiva do trabalho do enfermeiro requer um conhecimento oriundo da dinâmica de grupo, que não se restringe a simples utilização de técnicas, mas sim da compreensão dos movimentos grupais com toda a sua complexidade.


Por não ter uma formação específica para isso, o enfermeiro se depara com grandes dificuldades quando enfrenta o mercado de trabalho e se vê frente a obstáculos na liderança, na comunicação, no relacionamento interpessoal, já que coordenar grupos não se constitui tarefa simples. O desenvolvimento das habilidades para a coordenação de grupos deve estar ancorado em um processo que possibilite ao aluno experimentar-se nos diversos papéis possíveis dentro do contexto do grupo. É fundamental nesse aprendizado, um referencial teórico que dê sustentação à compreensão dos diversos processos que ocorrem no interior dele e dos recursos que o coordenador precisa para o seu manejo.


De acordo com Moraes (2006) a compreensão desses movimentos grupais é um instrumento precioso, tanto para melhorar a eficácia das intervenções do coordenador, quanto para investigar e estimular os potenciais do próprio grupo.


Assim, consideramos que é necessário ao enfermeiro um ensino específico sobre a coordenação de grupos para que este possa atuar de modo mais adequado e com respaldo teórico que lhe permita uma leitura das forças que gravitam no interior dos grupos e equipes. Isso, certamente, lhe garantirá uma atuação mais segura e ampliará a sua capacidade para explorar todo o potencial transformador presente no contexto grupal. Uma das possibilidades de viabilizar esse aprendizado, por exemplo, é através do modelo de Educação de Laboratório que trabalha as dimensões cognitiva, emocional, atitudinal e comportamental. Na Enfermagem, experiências que utilizam esse recurso na formação do enfermeiro mostraram resultados positivos e adequação dessa tecnologia ao ensino dessa temática.


Caracterizando os aspectos estruturais dos grupos


Embora as atividades em grupos façam parte do cotidiano de muitos profissionais e sejam desenvolvidas até de forma automática é importante dizer para algumas condições podem contribuir para o seu êxito ou fracasso. Tais condições são desenhadas em diversos planos, que vão desde aspectos estruturais de funcionamento até sua dinâmica interna e das inter-relações.


Segundo Munari (2003) uma das formas de identificarmos o tipo de trabalho de grupo é através dos seus objetivos que geralmente definem o perfil da atividade.


Quanto aos objetivos um grupo pode:


Oferecer suporte: ajudando pessoas durante períodos de ajustamento à mudanças, no tratamento de crises ou ainda na manutenção ou adaptação a novas situações.

Realizar tarefas: é a etapa de experimentar ou re-experimentar a realização de determinadas tarefas.

Socializar: os grupos usados com esse objetivo em geral podem ajudar pessoas que tiveram algum episódio de perda e que interromperam seus vínculos sociais.

Aprender mudanças de comportamentos: a tarefa de grupos com esse objetivo é ajudar pessoas a alterarem ou buscarem comportamentos mais saudáveis que podem ser aprendidos.

Treinar relações humanas: grupos dessa natureza surgiram com o objetivo de melhorar as relações de trabalho de seus participantes.

Oferecer psicoterapia: destina-se ao tratamento de pessoas conduzido pelo terapeuta com o objetivos de mudanças de comportamento.

Outra variável que podemos usar para diferenciação de tipos de grupos é a estrutura grupal, e esta pode estar baseada em alguns pressupostos que são fundamentais na determinação do funcionamento da atividade.

Tipo de participantes: a definição dos membros que farão parte dos grupos talvez sejam o principal aspecto dessa estrutura, pois esta diretamente ligado as capacidades do membros para contribuírem com os objetivos dos mesmos.

Nível de prevenção: em geral está ligado ao tipo de cliente que é considerado como membro do grupo pois a partir dos mesmos, serão traçadas as metas do que se pretende atingir com essa clientela específica.

Grau de estrutura: esse parâmetro dependerá do tipo de funcionamento e organização interna do grupo.

A orientação teórica: define o funcionamento do grupo dependendo da orientação que o líder ou terapeuta utiliza para a condução do mesmo.

Variáveis físicas: adequação das condições físicas do ambiente onde vai se realizar o grupo são fundamentais para que ele aconteça .

Instilação de esperança: é um movimento importante no relacionamento intragrupal, é a esperança na cura ou no que as coisas podem ser diferentes que oferece aos participantes estímulo para se manterem no grupo.

Universalidade: é como se fosse um reforço ao incentivo da esperança é um movimento que se revela através da exposição de experiências comuns, do aprendizado de que os membros não estão sozinhos.

Oferecimento de informações: inclui todas as orientações importantes ao membro do grupo, sendo ou não o objetivo central da atividade, congrega uma relativa quantidade de informações que podem ser oferecidas durante o trabalho de grupos de saúde.


No que se refere à atuação do enfermeiro frente às ações de promoção à saúde, as atividades grupais parecem ser cada vez mais utilizadas ao longo dos anos. Essa tendência exige um preparo específico do enfermeiro para um melhor desempenho técnico-científico, o que lhe torna capaz de fazer mais visível sua intervenção através dessa tecnologia.


Enfim, grupo não é um mero ajuntamento de pessoas, mas, um sistema identificável, composto de três ou mais indivíduos que se engajam em tarefas a fim de atingirem um objetivo comum. Seus membros devem relacionar-se uns com os outros em torno de tarefas e objetivos. Deve ser visto como sendo um conjunto de indivíduos que são, até certo ponto. Interdependentes.

CONSIDERAÇOES FINAIS

O ser humano participa e vive constantemente inserido nos grupos e o enfermeiro, por sua vez, desenvolve atividades que lhe exige a capacidade de compreender e coordenar trabalhos focados no contexto do grupo. Por isso, o entendimento do universo da dinâmica dos grupos amplia suas chances de desempenhar melhor o papel de coordenador de grupos.


Identificamos pontos onde esse conhecimento parece indispensável para o desenvolvimento de habilidades e competências do enfermeiro na gestão de pessoas, grupos e equipes e na assistência de Enfermagem.


Acreditamos que o processo de aprendizagem dessa temática possibilita ao indivíduo sair da rotina do conhecido e procurar novas formas de interpretações da realidade.


Nessa perspectiva o aluno poderá ser despertado para a possibilidade de melhorar o seu desempenho na comunicação, nas relações interpessoais, na liderança e, finalmente, no manejo adequado de grupos e equipes de modo a explorar todo o potencial destes com vistas ao seu crescimento e mudança.


A construção dessa reflexão foi guiada pela crença de que, o conhecimento da dinâmica grupal oferece a oportunidade para o enfermeiro não ter receio de trilhar novos caminhos, de ter ampliada a sua capacidade de analisar a complexidade das relações interpessoais no trabalho e, finalmente, de buscar melhores formas de intervenção para os problemas do cotidiano dos serviços de saúde, especialmente, no planejamento de um ambiente mais propício à promoção da saúde, ao desenvolvimento da criatividade da valorização das relações interpessoais como base para o crescimento humano.

REFERÊNCIAS

MUNARI D B, Furegato ARF. ENFERMAGEM E GRUPOS. 2ª ed. Goiânia (GO): AB; 2003.


MOSCOVICI F. DESENVOLVIMENTO INTERPESSOAL: TREINAMENTO EM GRUPO. 11ª ed. Rio de Janeiro: José Olympio; 2001.


ANDALÓ CSA. O PAPEL DE COORDENADOR DE GRUPOS. Psicologia USP, São Paulo 2001.


RODRIGUES, Antonia Regina. PROCESSO GRUPAL EM ENFERMAGEM: POSSIBILIDADES E LIMITES. v.31, n.2, p.237-50, ago. 1997. Disponível em:http://www.ee.usp.br/reeusp/ upload/pdf/413.pdf. Acesso 05/06/2009 às 14h00min.


ANDRAUS S, Lourdes; MALAGONI, Lizete. ENSINANDO E APRENDENDO: UMA EXPERIÊNCIA COM GRUPOS. Revista Eletrônica de Enfermagem, v. 06, n. 01, 2004. Disponível em: http://www.fen.ufg.br/revista/revista6_1/r2_pais.html. Acesso 04/06/2009 às 21h39min